“Hoje a medicina reconhece Deus mais do que antes”
Dr. José Valdaí fala sobre a importância da fé no tratamento de doenças. Hoje a medicina reconhece Deus mais do que antes”
Diante do avanço das pesquisas científicas, os médicos estão cada vez mais convencidos da influência da fé na saúde das pessoas, segundo o Doutor José Valdaí de Souza, cirurgião geral e especialista em biologia molecular de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
“O que se observa hoje é que a parte espiritual está muito ligada à nossa mente. A religião, que é muito mais antiga do que a ciência, começa a se movimentar mais. Hoje os médicos estão acreditando mais na parte espiritual. Hoje Deus existe mais para a medicina do que antes. Não é uma coisa nova, mas é algo novo para a medicina”, Valdaí destacou em entrevista ao Guiame.
Falando sobre seu campo de atuação, Dr. Valdaí esclarece que a medicina molecular trabalha não só na prevenção de doenças, mas também na correção do gene. “Minha busca é tentar descobrir o que está errado no gene, que causa a patologia”, explica.
“Se nós conseguirmos corrigir o gene ao transcurso de uma patologia, nós podemos ajudar esse indivíduo a ter a vida prolongada ou até mesmo ser curado. Até quando a fé e o potencial desse indivíduo, do ponto de vista espiritual, pode nos ajudar a fazer isso? Esse é o motivo pelo qual estou aqui hoje. Eu vim conhecer isso de perto”, acrescenta.
Estudos abordam relação entre a espiritualidade e a medicina
Um levantamento recente do banco de artigos Pubmed revelou que o interesse na relação entre a medicina e a espiritualidade vem aumentando ao longo dos últimos 15 anos. Atualmente, é possível encontrar na plataforma mais de 30 mil artigos publicados com as palavras-chave ‘spiritual’ ou ‘religio’.
Na busca do Google as palavras ‘saúde’ e ‘espiritualidade’ aparecem em mais de 3,6 milhões de referências.
Um desses estudos, feito em 2012 pela Santa Casa de Porto Alegre, mostrou como a dupla medicina e espiritualidade é importante no tratamento médico. No levantamento feito por dois médicos da instituição com 260 pacientes, 70% gostaria que o médico falasse sobre religião, mas apenas 15% o fazem. Além disso, mais de 84% dos pacientes entrevistados acreditava que ter fé faz bem à saúde e 88,2% usava a fé como conforto na doença. A conclusão? A fé influencia no tratamento de doenças.
“A fé, ou melhor, a espiritualidade, vem trazer luz ao nosso trabalho em saúde não só médico, mas de toda a equipe porque o modelo de saúde baseado somente na eficiência, produtividade, perfeição física e envelhecimento com sucesso não é sustentável e real. A saúde física não é tudo.
Centenas de pesquisas têm se apresentado em todo o mundo abordando essa dimensão que traz em si um tanto de mistério, mas também um mundo de carinho e amor. A revista The Lancet publicou um número inteiro tratando do assunto”, comenta Paulo Fontão, membro do Grupo de Trabalho de Saúde e Espiritualidade da Sociedade Brasileira de Medicina e Família (SBMFC).
Vale reforçar que religião e espiritualidade não estão restritas a uma área médica específica e muitos locais têm buscado integrar a espiritualidade na prática médica. A Association of American Medical Colleges (AAMC) inclusive orienta que os currículos médicos devem ser capazes de orientar os alunos quanto ao papel da espiritualidade no cuidado dos pacientes em diferentes situações.
Um levantamento feito em 2012 com 86 escolas médicas do país apontou que 10,4% possuíam cursos eletivos ou obrigatórios de religião e espiritualidade e mais de 40% vinculavam esse conteúdo para a graduação. Dos diretores das escolas médicas brasileiras, 54% acreditavam que esse assunto é importante para ser ensinado em faculdades de medicina. Já nos Estados Unidos, a porcentagem de escolas médicas que incluem a espiritualidade nos seus currículos chegar a 85%.
Para Fontão, a aproximação entre os dois assuntos deve ser abordada com delicadeza e respeito na relação entre médico e paciente. “Na prática, temos que buscar entender a conveniência, a oportunidade e o quanto essa abordagem pode, de fato, contribuir para o bem-estar daquela pessoa. Não somos todos iguais e nossa abordagem como médicos de família e como profissionais de saúde também não pode ser”, reforça o especialista.
Reconhecendo a importância desse debate, um grupo de médicos de São Paulo e do Brasil criou em 2015 o “Coalizão Inter-Fé em Saúde e Espiritualidade”. Composto por médicos de especialidades e tradições religiosas diversas, o grupo enfatiza a importância da espiritualidade nos hospitais.
Fé serve como apoio à Medicina, diz neurofisiologista Para especialista, fé na luta contra uma enfermidade é de extrema importância.
Mesmo para quem discorda que a recuperação surpreendente de algumas pessoas que enfrentam doenças graves, tidas por muitos como milagres, seja uma obra divina, a fé na luta contra uma enfermidade é tida como de extrema importância.
Presidente da Sociedade Brasileira de Céticos e Racionalistas, o neurofisiologista Renato Sabbatini afirma que a fé pode “curar uma doença diretamente”.
Medicina da família e da comunidade
A medicina de família e comunidade é uma especialidade médica, assim como a cardiologia, neurologia e ginecologia. O MFC é o especialista em cuidar das pessoas, da família e da comunidade no contexto da atenção primária à saúde. Ele acompanha as pessoas ao longo da vida, independentemente do gênero, idade ou possível doença, integrando ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde. Esse profissional atua próximo aos pacientes antes mesmo do surgimento de uma doença, realizando diagnósticos precoces e os poupando de intervenções excessivas ou
desnecessárias.
O especialista em MFC deve utilizar uma abordagem centrada na pessoa, podendo ser capaz de resolver pelo menos 90% dos problemas de saúde, manejar sintomas inespecíficos e realizar ações preventivas. É um coordenador do cuidado, trabalha em equipe e em rede, advoga em prol da saúde dos seus pacientes e da comunidade.
Atualmente há no Brasil mais de 3.200 médicos com título de especialista em medicina de família e comunidade.
EXEMPLO DA APLICAÇÃO DA FÉ!!
Após meses convivendo com uma enxaqueca cruel, uma jovem decidiu procurar uma neurologista especialista no assunto. Durante o tradicional interrogatório médico ao paciente, em que são procurados detalhes que possam auxiliar no diagnóstico e na indicação de um melhor tratamento, a neurologista pergunta: “Você é adepta de alguma religião?”. A partir desse questionamento, a médica gostaria de saber como a paciente professa a fé.
Estranho? Depende do ponto de vista. Hoje em dia, mesmo que não consiga mensurar os benefícios biológicos da fé, uma leva de médicos percebe que os pacientes espiritualizados conseguem conviver melhor com um problema de saúde, ao contornar sintomas e driblar impactos que uma doença possa causar.
Vários pesquisadores em todo o mundo acreditam que práticas como oração e meditação têm efeitos sobre o nosso organismo. Um estudo publicado no The Journal of the American Medical Association (Jama) revelou que não são poucos os profissionais que veem um elo entre fé e saúde. Dos 2 mil médicos entrevistados, 56% acreditam que a religião e a espiritualidade têm uma influência significativa na saúde dos pacientes.
Entre as hipóteses que podem explicar o motivo pelo qual a fé influencia na saúde, está a possibilidade de que, ao desenvolvermos a espiritualidade, conseguimos alcançar um estado mental que induz ao equilíbrio neurofisiológico e dos hormônios, além de atuar de forma favorável na imunidade.
Outra corrente acredita que aqueles que têm fé encontram um sentido na vida, o que pode promover a longevidade com mais esperança e atitudes positivas. Hipóteses à parte, é importante considerarmos que, independentemente do tipo de crença, a fé é capaz de nos ajudar a ver o lado positivo das coisas e, dessa maneira, pode nos oferecer bem-estar e fazer a diferença diante do controle ou combate de alguma doença crônica.